sábado, 22 de junho de 2013

Pítia


Sacerdotisa de Delfos (1891), de John Collier
Os gregos davam o nome de Pitonisas a todas as mulheres que tinham a profissão de adivinhas, porque o deus da adivinhação, Apolo, era cognominado Pítio, quer por haver matado a serpente píton, quer por ter estabelecido o seu oráculo em Delfos, cidade primitivamente chamada Pito. 
A pítia ou pitonisa propriamente dita era sacerdotisa do oráculo de Delfos. Sentada sobre o trípode ou cadeira alta com três pés, acima do abismo hiante donde brotavam as pretensas exalações proféticas, ela divulgava os seus oráculos uma vez por ano, no começo da primavera.
No começo só houve uma Pítia, mais tarde, quando o oráculo mereceu inteiro crédito, elegeram-se muitas sacerdotisas, que se substituíram umas às outras e podiam sempre dar resposta em um caso importante ou excepcional.
Dafne, a Sibila délfica: afresco de Michelangelo na Capela Sistina
Plutarco e outras fontes assinalam que, durante as sessões normais, a mulher que servia como pitonisa estava em um transe suave. Ela era capaz de sentar-se aprumada no trípode e passar um tempo razoável ali (embora, se a fila de pessoas que pediam conselhos fosse longa, uma segunda e até mesmo uma terceira pitonisa pudessem substituí-la). Ela podia ouvir as questões e respondê-las de forma inteligível. Durante as sessões oraculares, a pitonisa falava com voz alterada e tendia a cantar as respostas, permitindo-se jogos de palavras e trocadilhos. Após a sessão, segundo Plutarco, ela se parecia com um corredor após uma maratona, ou uma dançarina ao final de uma dança extática.
Em uma ocasião, que ou o próprio Plutarco ou um de seus colegas testemunharam, as autoridades do templo forçaram a pitonisa a profetizar em um dia não propício, para agradar os membros de uma importante comitiva. Relutante, ela se dirigiu para o ádito subterrâneo e foi imediatamente tomada por um espírito poderoso e maligno. Neste estado de possessão, em vez de falar ou cantar como fazia, gemeu e gritou, jogou-se ao chão violentamente e precipitou-se em direção às portas, onde desmaiou. Os sacerdotes e as pessoas que a consultavam, assustados, inicialmente fugiram. Mas voltaram mais tarde e a recolheram. Alguns dias depois ela morreu.

A Pítia era escolhida com cuidado pelos sacerdotes de Delfos, que, por seu turno, eram encarregados da interpretação ou redação dos oráculos. Exigia-se que ela tivesse nascido legitimamente, que tivesse sido educada simplesmente e que essa simplicidade transparecesse em seus costumes. Não devia conhecer nem as essências nem tudo quanto o luxo refinado faz imaginar às mulheres. Era de preferência escolhida em uma casa pobre, onde tivesse vivido na mais completa ignorância de todas as coisas. Era bastante que soubesse falar e repetir o que o deus lhe dissesse. 
A ÚNICA REPRESENTAÇÃO da sacerdotisa, ou pitonisa, de Delfos, da época em que o oráculo estava ativo, mostra a câmara de teto baixo e a pitonisa sentada em um trípode. Em uma das mãos ela segura um ramo de louro (a árvore
sagrada de Apolo); na outra ela segura uma taça contendo, provavelmente, água proveniente de uma fonte e que penetrava, borbulhando, na câmara, trazendo consigo gases que levavam a um estado de transe. Esta cena mitológica mostra o rei Egeu de Atenas consultando a primeira pitonisa, Têmis.
A peça foi feita por um oleiro ateniense em torno de 440 a.C
Nem sempre o oráculo era desinteressado. Mais uma vez, por instigação dos seus ministros, e pelo boca de sua sacerdotisa, Apolo cortejou riqueza e poder. Os atenienses, por exemplo, acusaram a Pítia de se haver deixado corromper pelo ouro de Filipe da Macedônia. 
O costume de consultar a Pítia remontava os tempos heróicos da Grécia. Diz-se que foi Femonoe a primeira sacerdotisa do oráculo de Delfos que fez o deus falar em versos hexâmetros, acrescenta-se que ela vivia sob o reinado de Acrício, avô de Perseu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou lendo o Mundo de Sophia e o teu texto complementou bastante minha leitura. Obrigado ^^